Drummond e o "Diário Reinventado"

Drummond e o "Diário Reinventado"
Essa foto registra homenagem deliciosa e delicada do prof. Luis Carlos Maciel ao meu pai, Eduardo Cisalpino. O livro que o prof. segura nas mãos e que parece "comentar" com o poeta, é o "Diário Reinventado, de Eduardo Cisalpino.. Obrigado à Magda pela foto.

Jack Kerouac

Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas

terça-feira, 28 de outubro de 2014

QUERO MUDAR PARA O MEU BRASIL

QUERIA MESMO ERA MUDAR PARA O MEU BRASIL



O rescaldo eleitoral, até o momento, tem sido pior do que a campanha em si. Ontem mesmo um amigo falava sobre sua esperança de que tudo isso tenha contribuído para trazer o debate político para o cotidiano das pessoas, para que elas percebam que a política e os políticos são fundamentais para seu cotidiano e sua vida. Acho pouco provável: já tem gente por aí dizendo que “vai voltar para sua vida normal”, como se as decisões políticas não fizessem parte de sua “vida normal”. Consciências de ocasião certamente não produzem posições politicas  sólidas.
O que se vê, é basicamente o mesmo país de sempre, pelo menos na minha leitura. Eu, votei em Aécio Neves e fiz campanha por Aécio Neves. Pela alternância no poder, fundamental para qualquer país democrático, especialmente os países presidencialistas, onde uma vez eleito, dificilmente se consegue mudar o rumo das coisas sem grandes traumas ou rupturas institucionais – fossemos uma república parlamentarista mudanças na composição do parlamento poderiam significar correções ou novas escolhas de forma mais eficiente.
Eu votei em Aécio Neves por discordar da condução da economia brasileira como um todo, e por discordar do modelo de políticas sociais – algumas pessoas acreditam que “inventaram a roda” e que esse modelo petista é o melhor ou único que existe. Isso não é verdade: existem outros modelos mais eficientes e que tornam os mais carentes menos dependentes de quem afirma lhes conceder um favor, quando na verdade isso é um direito do cidadão e um dever do estado, somente. Aécio Neves não representava o modelo que eu considero ideal, mas era um passo nesse sentido.
Eu votei em Aécio Neves para interromper a transformação da corrupção em prática de estado, contra a institucionalização da corrupção que vem, inegavelmente, sendo feita neste país. A afirmação de que há corrupção para todo lado é pequena demais diante do que vem acontecendo.
Eu votei em Aécio Neves contra atitudes autoritárias comuns ao partido no poder, e sua derrota poderia significar um retorno a práticas menos abusivas e ao desaparelhamento do estado brasileiro.
Enfim, votei por motivos políticos, nos quais acredito. E continuo acreditando.
Mas, é claro que nem todos que votaram em Aécio Neves votaram pelos meus motivos. Vejo propagandas, por exemplo, retomando propostas separatistas de São Paulo: curiosamente, o mesmo estado onde nasceu o PT. O mesmo estado que projetou Lula e seu partido no cenário nacional. Das grandes lideranças petistas, a maior parte é paulista ou teve sua vida política ligada a São Paulo. Outros, são representantes de famílias tradicionais da elite paulistana, como os Matarazzo e os Suplicy.
Vejo também a pregação de ódio aos nortistas e nordestinos, enquanto durante toda a campanha troquei opiniões e esperanças com os amigos nortistas e nordestinos. E o ridículo “vou embora do Brasil” - na verdade, seria ótimo que fossem. É um direito de cada um viver onde deseja, e a nós, que nos preocupamos de fato com nosso país, a nós que desejamos construir um país melhor para todos nós, essas pessoas realmente pouco acrescentam.
Vejo também eleitores do PT indignados com essas atitudes. Estão certos, é de se indignar. Mas, acredito que deveriam se indignar também com os petistas que chamam os eleitores de Aécio de “filhinhos de papai”, de “fascistas”. Deveriam se indignar quando petistas destilaram seu ódio contra São Paulo, no primeiro turno. Deveriam se indignar ao afirmar que quem vota em Aécio “só pensava em si mesmo e não nos mais humildes”: o PT não tem o monopólio da sensibilidade social, sinto muito. Só há quem pense nela de forma diferente.
Deveriam se indignar quando petistas sugeriram que Rachel Sherazade deveria ser estuprada. Deveriam se indignar quando petistas fizeram ameaças de morte à família de Aécio Neves. E muitas coisas mais.
Não acredito na indignação destes diante da estupidez que vemos sobre o nordeste e outros temas: é uma indignação política, e não uma verdadeira defesa da tolerância e do respeito. Estes, foram tão preconceituosos, desrespeitosos, “fascistas” e intolerantes quanto aqueles.
Mas, felizmente ainda posso receber um abraço de meus alunos e amigos petistas ou não petistas mas que votaram em Dilma, por seus motivos tão válidos quanto os meus: apenas discordo deles. E isso não dói em nenhum de nós. Nos respeitamos de diversidade, que é a única coisa que existe de fato, entre as pessoas.
Portanto, declaro que continuo preferindo morar no meu Brasil, no Brasil onde moramos todos os que votaram em Aécio e todos que votaram em Dilma, e todos que votaram nulo, e todos que preferiram ir pescar do que perder tempo com candidatos que eles acreditavam que não iam mudar coisa alguma no país.
No meu Brasil, que luto pra construir e continuarei lutando, cada um vai poder fazer as opções políticas que quiser, por seus motivos, por seus valores e ideias, e os outros, que não compartilham deles, poderão sagradamente discordar . Discordar não faz ninguém mais ou menos inteligente que o outro: só diferente.
No meu Brasil, seremos diferentes alegremente. Só concordaremos que é proibido não tolerar a discordância. A diversidade é isso: conviver com a certeza de que ninguém é como nós, e não a tentativa de igualar todos nós.
O mundo é feito de diferenças, não de igualdades. Ideais que impunham igualdades aos desiguais já produziram tragédias demais na humanidade. Se formos dividir o país em função de nossas diferenças, construiremos um país com 200 milhões de ilhas.

E certamente eu sentiria falta de alguém que me dissesse: “eu discordo de você”. E morreria no tédio, na solidão das verdades absolutas.