Drummond e o "Diário Reinventado"

Drummond e o "Diário Reinventado"
Essa foto registra homenagem deliciosa e delicada do prof. Luis Carlos Maciel ao meu pai, Eduardo Cisalpino. O livro que o prof. segura nas mãos e que parece "comentar" com o poeta, é o "Diário Reinventado, de Eduardo Cisalpino.. Obrigado à Magda pela foto.

Jack Kerouac

Eu só confio nas pessoas loucas, aquelas que são loucas pra viver, loucas para falar, loucas para serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, que nunca bocejam ou dizem uma coisa corriqueira, mas queimam, queimam, queimam, como fabulosas velas amarelas romanas explodindo como aranhas através das estrelas

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

O VIÚVO VIRGEM


"Eu vi muitos cabelos brancos na fronte do artista
O tempo não para e no entanto ele nunca envelhece
Aquele que conhece o jogo, do fogo das coisas que são
É o sol, é a estrada, é o tempo, é o pé e é o chão"

C. Veloso


Para meu avô, Dagoberto Amorim Silva
Criador de Passarinhos no Jardim do Éden

O VIÚVO VIRGEM


   Ele nasceu em uma família de classe média, em Maceió, Alagoas. Ainda muito jovem, morreram-lhe os pais. Ele e a irmã, ainda mais jovem, foram morar com um tio. Estávamos então nos primeiros anos do século XX.
   O tio, homem muito tradicional e autoritário, era chamado pela esposa de "senhor meu marido". Durante as refeições, ela servia o marido e as crianças e só depois sentava-se à mesa. E todos, à mesa, esperavam que ele começasse a comer antes de fazerem o mesmo.
   Levantar-se da mesa antes dele? Nem pensar. Falar alguma coisa à mesa? Só se ele perguntasse ou se dirigisse à pessoa. Crianças então: silêncio total. E modos: o jeito certo de se vestir para as refeições, o jeito certo de sentar, o jeito certo de comer, etc, etc, etc.
   Certo dia, terminada a refeição, o tio pediu que trouxessem a sobremesa: um lindo cacho de bananas. O garoto não se conteve, ou nem percebeu que havia falado alto: "Que lindas bananas". Foi só isso que ele falou. E foi o que bastou. Pelo atrevimento de falar à mesa sem autorização, foi obrigado pelo tio a comer o cacho inteiro.
   O sacrifício para comer aquilo tudo foi enorme. Mas ele fez questão de não chorar, de não reclamar, nada. Terminado o cacho, continuou na mesa por mais uma hora, esperando autorização do tio para se retirar.
   A vida não era fácil ali. Nem pra ele, nem pra irmã. Era preciso fazer alguma coisa, e cabia a ele. Então, fugiu de casa. Foi para o Rio de Janeiro, aos 14 anos de idade, em busca de uma outra vida, pra ele e para a irmã.
   Sem profissão definida, com pouca ou quase nenhuma experiência de trabalho, menor de idade e sem formação escolar completa, foi trabalhar no cais do porto. estivador. E depois de algumas semanas na cidade, fez amizade com uma prostituta da região. E foi morar com ela, no quartinho que ela usava como local de trabalho, no bordel.
   Aprendeu muito ali, sobre a vida e sobre as pessoas. Aprendeu também a dançar. Um verdadeiro pé de valsa, que um dia dançaria um frevo, tendo a filha como parceira, para o Rei da Bélgica, em visita ao Brasil.
   Trabalhando e estudando, enfim conseguiu uma vaga no banco: Banco da Lavoura. E transferiu-se para Belo Horizonte. 
   A jovem e formosa capital mineira, recebeu o rapaz de braços abertos. Organizou a vida, trouxe a irmã para viver com ele. E foi ali também onde conheceu o amor: apaixonou-se por um jovem mineira. Funcionário estável do Banco da Lavoura, foi bem recebido pela família da jovem. Namorava como se devia: dentro de casa, no sofá, cada um num canto, guardados sempre por alguém da família.
   Planejavam o noivado e o casamento. Mas ela ficou gravemente doente: contraiu a "Espanhola". A moça definhava mais e mais a cada dia. Angustiado, queria ficar ao lado dela, o máximo que pudesse. Mas, uma moça solteira, de boa família, não podia ficar sozinha no quarto com um homem que não fosse seu marido.
   Ele, então, casou-se com ela. Casou-se para poder acompanhar sua amada em seus últimos dias. E esses dias foram poucos.
   A história correu: o rapaz, funcionário do Banco da Lavoura, que se casara com a moça no leito de morte. E ele ficou conhecido como o "Viúvo Virgem". Andava pela rua e sentia sempre o olhar e os comentários das pessoas. Todo mundo queria saber quem era o Viúvo Virgem. Gente saia de casa ou se atirava na janela quando ele passava. E ele passava, sereno e tranquilo com seu gesto de amor, do qual se orgulhava, Os outros pouco importavam.
    Leondina, era uma dessas jovens que se atiravam com curiosidade na janela quando o "viuvinho virgem" passava. Leondina se agradou dele, e ele dela. Primeiro os olhares, pontuais, da janela. Todo dia. Depois as conversas no portão de casa. Depois, foi à casa de Leondina, apresentou-se, e pediu permissão para namorá-la.
     Namoraram, casaram, tiveram quatro filhos. E viveram juntos, entre passarinhos, netos e bisnetos, por mais 60 anos.
    Um dia, ela adoeceu. Foram alguns anos ao lado da cama de "Dona Santa", como ela era chamada por todos. Até que ela se foi, como um passarinho.
   Não demorou muito para que ele a acompanhasse. Dizem que foi tristeza.

domingo, 30 de novembro de 2014

HAGIA SOPHIA: A SAGRADA SABEDORIA


HAGIA SOPHIA : QUE A SAGRADA SABEDORIA NOS PROTEJA

         A Mesquita Azul, era anteriormente conhecida como Catedral de Santa Sofia, que originalmente conhecida como Hagia Sophia, que em grego significa "Sagrada Sabedoria". 
O edifício foi construído entre 532 e 537, pelo Império Bizantino, também conhecido como Império Romano do Oriente.



            A história de Hagia Sophia (Ayasofya, no árabe), é marcada pela própria conjuntura de sua construção: uma civilização em transição. Separado de sua porção ocidental, que desmoronara diante das invasões germânicas que ocuparam Roma quase um século antes, o Império Bizantino era, nesse momento, um caldeirão de culturas: carregava as velhas tradições "pagãs" romanas, misturadas à cristianização crescente, especialmente a partir do século IV, quando Constantino estabeleceu o Édito de Milão, que possibilitou o culto legal e aberto do cristianismo, antes perseguido e restrito às catacumbas, aos subterrâneos do Império.
           O nome dado ao edifício, tempos depois da abertura proporcionada por Constantino, da oficialização do cristianismo como religião do Império e do fim da porção ocidental desse mesmo império, ainda reflete sua divisão cultural: construída para ser a catedral de Constantinopla, seu nome santificava a sabedoria, sutilmente, tanto ao passado romano quanto ao presente cristão.
         Entre 1204 e 1261, ela foi transformada em Catedral Católica, pelo Patriarcado Latino de Constantinopla, depois da invasão e do saque da cidade proporcionado pela Quarta cruzada.
       Em 1453, depois da tomada de Constantinopla pelos Turcos-Otomanos, episódio que põe fim ao  Império Bizantino ou Império Romano do Oriente e marca o início do domínio islâmico sobre a região, foi transformada em Mesquita.
       Finalmente, em 1935, o edifício foi secularizado: desde então, é um museu. Um museu que abriga tradições culturais diversas, que vão desde a religião mitológica dos romanos e dos gregos, passando pelo cristianismo - tanto católico quando grego-ortodoxo e finalmente chegando ao islamismo.
       Foi exatamente neste edifício, a Mesquita Azul, ou Catedral de Santa Sofia, ou Hagia Sophia, que o Papa Francisco, o líder católico, o líder de uma religião que congrega centenas e centenas de milhões de pessoas em todos os cantos do mundo, se encontrou com o Mufti de Istambul, o grande líder muçulmano da Turquia.
       Os dois líderes religiosos fizeram suas orações - ou "meditações" dentro do histórico e eclético edifício. O detalhe importante é que fizeram isso voltados para Meca, e com o Papa descalço, como manda a tradição islâmica.



        Não é a primeira vez que um líder cristão faz esse gesto. Anos atrás, o Papa Bento XVI fez a mesma coisa. Mas, neste momento, o gesto de Francisco e suas palavras, conclamando à tolerância e à união contra os radicalismos, de qualquer radicalismo, é extremamente importante.

       Grupos radicais ameaçam o mundo cristão e o mundo muçulmano. O Boko Haram, na África, o Estado Islâmico e o Levante, na Síria e no Iraque, assim como os mais antigos como o Hezbollah e o Hamas, respectivamente no Líbano e na Palestina, não são uma ameaça, hoje, apenas para os cristãos e os judeus. São uma ameaça também para todos os regimes instituídos no mundo islâmico. Somados às crescentes correntes ultraconservadoras no mundo ocidental, compõem uma quadro de radicalização que pode levar ao predomínio da insanidade e do fanatismo em todo o planeta.
       É sempre bom lembrar que a luta contra o radicalismo já levou algumas vidas, como a do Mahatma Gandhi, assassinado por um ultranacionalista hindu que acusava o grande líder de ser responsável pela divisão do país, pela separação do Paquistão da Índia. Separação que foi aceita pelos líderes do governo indiano na tentativa de por fim a uma sangrenta e infindável guerra civil entre Hindus e Muçulmanos na região.
       Custou, nos anos 80,  a vida também de Anuar Sadat, presidente egípcio assassinado por um radical muçulmano que acusava o presidente de ter "traído a causa árabe" ao aceitar o acordo com Israel que garantiu a devolução da Península do Sinai ao Egito em troca do reconhecimento da legitimidade do estado de Israel.
   Esse mesmo radicalismo levou ao assassinato de Ytzak Rabin, primeiro-ministro israelense, nos anos 90, por um ultranacionalista judeu, que o acusava de "trair a causa judaica" ao aceitar o acordo para a desocupação de Gaza e da Cisjordânia para a formação da Autoridade Nacional Palestina, embrião do Estado Palestino, cuja criação foi determinada pelas Nações Unidas em 1947.
     Hoje, assassinos travestidos de líderes políticos e religiosos, levam milhares de pessoas à morte na Palestina, em Israel, na Síria e em todo o Oriente Médio, principalmente. A cada dia, assistimos a decapitações, ao assassinato em massa de cristãos, à venda de mulheres e crianças como escravas por se recusarem a aceitar o deturpado e doentio islamismo pregado por esses radicais.
    Apesar de alguns tolos, que deixam seus princípios ideológicos e seus interesses políticos falarem mais alto do que o amor ao próximo, e propõem o "dialogo" com esses assassinos frios, os mais importantes líderes do mundo, tanto do mundo cristão, quanto judeu, quanto muçulmano, entenderam o perigo que a fermentação generalizada do radicalismo, do fanatismo, representa para a humanidade.
      Nesse sentido, venho congratular o Papa Francisco e o Mufti de Istambul, por essa iniciativa, como exemplo para os bilhões de muçulmanos e católicos de todo o mundo, os dois líderes procuram a inspiração para superar a ignorância e a violência - mãe e filha do radicalismo, no grande e histórico edifício da Sagrada Sabedoria.
         Hagia Sophia: que você prevaleça sobre a consciência humana.
    


quinta-feira, 20 de novembro de 2014

SOBRE CRIANÇAS E ATUNS

SOBRE CRIANÇAS E ATUNS



Certa vez, fui surpreendido por uma solicitação da escola em que meu filho estudava, em Belo Horizonte: eu deveria comparecer assim que possível para que a coordenação me fizesse ciente de problemas com o garoto por lá.
E fui. O problema é que ele tinha ido à escola sem a camiseta da escola, que era de uso obrigatório. E além disso, havia discutido com os funcionários da escola sobre o direito que ele tinha de assistir às aulas, mesmo estando sem o dito uniforme. E mais: se recusava a usar o mesmo.
O coordenador explicou a obrigatoriedade do uniforme e o objetivo dele. Entre outras coisas, disse que o objetivo do uniforme era para maior controle dos funcionários sobre quem entrava e saia da escola. E na rua, para identificá-los como estudantes e coisa e tal. Claro que não comentou que era também uma forma de propaganda da escola - propaganda paga pelos pais. E muito menos usou um velho argumento que eu já ouvira em outras plagas: o uniforme escolar evita que os alunos transformem a escola num “desfile de modas”. Evita que alunos menos abastados se sintam constrangidos pelas roupas “de marca”, dos colegas montados na grana.
Conversando com o garoto, perguntei porque não estava com o uniforme. Respondeu que estava com o uniforme na mochila. Estranhei. Perguntei, já bastante curioso: se está com ele aí por quê não usou? Resposta: “Não sou lata de atum”.
Ao ouvir aquilo, conclui que o garoto tinha me pegado, e que demandaria tempo e saliva convencê-lo a usar o tal uniforme.
Acontece que, por trás da frase “não sou lata de atum”, estão alguns princípios e ideias com as quais eu concordo.
Quando eu era “o garoto”, e depois “o adolescente”, tinha ouvido, na escola em que eu estudava, também em Belo Horizonte, o argumento de que o uniforme, de alguma forma, evita que se estabeleça uma “luta de classes” na escola. As diferenças socioeconômicas, da “vida lá fora”, não seriam trazidas para o ambiente escolar, onde todos seriam “iguais”...
Ora, isso é uma besteira gigantesca. É uma daquelas mentiras confortáveis, que as pessoas gostam de contar e acreditar.
Se as diferenças sociais não vinham pelas roupas, vinham pelo material escolar, vinham pelo carro ou ônibus que levava os alunos depois da aula. Vinha pela casa dos alunos, quando íamos fazer um trabalho ou quando era o aniversário de alguém. Ou simplesmente pelos assuntos, pelos temas de conversa, e principalmente, pelas “rodinhas”, pelos grupinhos que se formavam a partir dos sistemas de identificação que os próprios alunos construíam.
Meu pai sempre fez questão que estudássemos “nos melhores colégios”. Educação, pra ele, que também foi professor, sempre foi assunto prioritário. Com seis filhos, o esforço que a família fazia para manter todos nos “melhores colégios” também era muito grande.
Fiz o correspondente ao fundamental em um colégio particular de BH, e me orgulho muito disso: tanto pelo esforço de minha família em me oferecer o que considerava o melhor, quanto pelo colégio, que me ajudou a construir a base de toda a vida escolar.
Mas o colégio tinha muita gente rica. E claro que nós, os mais pobres, não frequentávamos as rodas dos mais ricos. Me lembro do aniversário de uma garota, colega de turma: ela convidou a todos, mas era da turminha dos pobres, e as meninas mais ricas boicotaram o aniversário dela.
Meu pai me levou até a casa dela, no dia do aniversário. Cheguei, educadamente, com o presentinho nas mãos. A garota estava sentada na porta da casa. Sozinha. Chorando. Eu fui o único colega de turma no aniversário dela. Único.
Eu tinha muitos colegas, mas poucos amigos. Os poucos, eram os “pobres”.
Em casa, meus pais nunca deram muita importância a isso. Nunca deram valor ou destaque às pessoas pelo que elas tinham, em termos materiais ou financeiros. Meu pai me apresentava às pessoas que respeitava mais ou menos assim: “Este é o professor Fulano, um dos maiores pesquisadores do país”... Ou assim: “Este é o Sicrano. É uma das pessoas de melhor caráter que eu conheço”. Assim também: “Este é Beltrano, Toca um berrante como ninguém”. Algumas vezes, o sujeito em questão era também rico, mas nunca foi um valor por si só.
Aprendi a dar valor às pessoas, ao que elas eram. E não ao que elas tinham. Inclusive a dar valor a quem ficava ou era rico por seu esforço e talento: nunca me senti roubado ou menor do que alguém que tinha ou tem dinheiro. Aprendi que talentos são vários e valiosos: do pescador inventivo, do vaqueiro dedicado, do motorista confiável, ao empresário brilhante.
Há poucos dias, uma mulher me pediu dinheiro na rua. Respondi: “não tenho nada no momento, minha senhora”. Uma pessoa ao meu lado, riu muito e disse debochado: “senhora”? Tive pena do pobre rapaz, que não compreendeu que o meu respeito é dirigido às pessoas, não a sua condição social.
Ainda hoje, é assim que eu olho para as pessoas: elas me impressionam pelo talento ou pelo caráter. Dinheiro é só a capa. E ninguém lê apenas capas: o que importa está nas páginas.
“Ah, mas não é assim que o mundo é”: ora, se o mundo como ele é merecesse tanto respeito, não haveria tanta gente querendo mudá-lo, não é?
Enfim, as pessoas e as instituições dirigidas pelas pessoas, tentam mascarar o mundo para as crianças, enquanto elas estão inseridas nele, vivem nele, e reproduzem nele sua própria humanidade. Crianças cobiçarão o lápis com borracha de Mickey do coleguinha. Crianças invejarão a popularidade de outras, ou o cabelo das outras, ou a bola bacana das outras. Adolescentes cobiçarão o boné, ou a mochila. Invejarão o namorado ou a namorada. Ou a falta de espinhas de alguém.
Crianças, adolescentes, adultos: são todos pessoas, são todos humanos e não há como preservá-los disso ou daquilo. A vida não respeita os muros da escola porque ela é a escola. A vida não poupa quem esteja de uniforme. Não poupa ninguém: estamos mergulhados no mesmo caldo. A biosfera é nosso aquário. Não há onde se esconder. A escola não vai proteger ninguém. O estado menos ainda. São ambos construções humanas: pessoas controlam as instituições. Pessoas controlam pessoas. Por isso, prefiro eu mesmo definir meus caminhos e ter claras, para mim, as minhas opções – é isso que me torna mais ou menos livre.
Há como se preparar. Há como esclarecer os valores e as ideias que fundamentam nossas opções diante da vida, Há como explicar aos filhos, aos amigos, a quem quer que seja, quais são os seus valores, no quê você acredita, e que abrir mão disso é abrir mão da sua vida, da vida que você pode escolher – é abrir mão da sua liberdade de ser quem quer ser. Somos o resultado de nossas escolhas e de nossos silêncios – que também são escolhas.
Realmente, e definitivamente, não somos atuns. Não há rótulo ou embalagem que nos contenha. Somos contidos apenas pelas redes que nós mesmos tecemos.

Somos um coletivo de singularidades. Nossa grandeza e nossa tragédia reside em nossas diferenças.

terça-feira, 28 de outubro de 2014

QUERO MUDAR PARA O MEU BRASIL

QUERIA MESMO ERA MUDAR PARA O MEU BRASIL



O rescaldo eleitoral, até o momento, tem sido pior do que a campanha em si. Ontem mesmo um amigo falava sobre sua esperança de que tudo isso tenha contribuído para trazer o debate político para o cotidiano das pessoas, para que elas percebam que a política e os políticos são fundamentais para seu cotidiano e sua vida. Acho pouco provável: já tem gente por aí dizendo que “vai voltar para sua vida normal”, como se as decisões políticas não fizessem parte de sua “vida normal”. Consciências de ocasião certamente não produzem posições politicas  sólidas.
O que se vê, é basicamente o mesmo país de sempre, pelo menos na minha leitura. Eu, votei em Aécio Neves e fiz campanha por Aécio Neves. Pela alternância no poder, fundamental para qualquer país democrático, especialmente os países presidencialistas, onde uma vez eleito, dificilmente se consegue mudar o rumo das coisas sem grandes traumas ou rupturas institucionais – fossemos uma república parlamentarista mudanças na composição do parlamento poderiam significar correções ou novas escolhas de forma mais eficiente.
Eu votei em Aécio Neves por discordar da condução da economia brasileira como um todo, e por discordar do modelo de políticas sociais – algumas pessoas acreditam que “inventaram a roda” e que esse modelo petista é o melhor ou único que existe. Isso não é verdade: existem outros modelos mais eficientes e que tornam os mais carentes menos dependentes de quem afirma lhes conceder um favor, quando na verdade isso é um direito do cidadão e um dever do estado, somente. Aécio Neves não representava o modelo que eu considero ideal, mas era um passo nesse sentido.
Eu votei em Aécio Neves para interromper a transformação da corrupção em prática de estado, contra a institucionalização da corrupção que vem, inegavelmente, sendo feita neste país. A afirmação de que há corrupção para todo lado é pequena demais diante do que vem acontecendo.
Eu votei em Aécio Neves contra atitudes autoritárias comuns ao partido no poder, e sua derrota poderia significar um retorno a práticas menos abusivas e ao desaparelhamento do estado brasileiro.
Enfim, votei por motivos políticos, nos quais acredito. E continuo acreditando.
Mas, é claro que nem todos que votaram em Aécio Neves votaram pelos meus motivos. Vejo propagandas, por exemplo, retomando propostas separatistas de São Paulo: curiosamente, o mesmo estado onde nasceu o PT. O mesmo estado que projetou Lula e seu partido no cenário nacional. Das grandes lideranças petistas, a maior parte é paulista ou teve sua vida política ligada a São Paulo. Outros, são representantes de famílias tradicionais da elite paulistana, como os Matarazzo e os Suplicy.
Vejo também a pregação de ódio aos nortistas e nordestinos, enquanto durante toda a campanha troquei opiniões e esperanças com os amigos nortistas e nordestinos. E o ridículo “vou embora do Brasil” - na verdade, seria ótimo que fossem. É um direito de cada um viver onde deseja, e a nós, que nos preocupamos de fato com nosso país, a nós que desejamos construir um país melhor para todos nós, essas pessoas realmente pouco acrescentam.
Vejo também eleitores do PT indignados com essas atitudes. Estão certos, é de se indignar. Mas, acredito que deveriam se indignar também com os petistas que chamam os eleitores de Aécio de “filhinhos de papai”, de “fascistas”. Deveriam se indignar quando petistas destilaram seu ódio contra São Paulo, no primeiro turno. Deveriam se indignar ao afirmar que quem vota em Aécio “só pensava em si mesmo e não nos mais humildes”: o PT não tem o monopólio da sensibilidade social, sinto muito. Só há quem pense nela de forma diferente.
Deveriam se indignar quando petistas sugeriram que Rachel Sherazade deveria ser estuprada. Deveriam se indignar quando petistas fizeram ameaças de morte à família de Aécio Neves. E muitas coisas mais.
Não acredito na indignação destes diante da estupidez que vemos sobre o nordeste e outros temas: é uma indignação política, e não uma verdadeira defesa da tolerância e do respeito. Estes, foram tão preconceituosos, desrespeitosos, “fascistas” e intolerantes quanto aqueles.
Mas, felizmente ainda posso receber um abraço de meus alunos e amigos petistas ou não petistas mas que votaram em Dilma, por seus motivos tão válidos quanto os meus: apenas discordo deles. E isso não dói em nenhum de nós. Nos respeitamos de diversidade, que é a única coisa que existe de fato, entre as pessoas.
Portanto, declaro que continuo preferindo morar no meu Brasil, no Brasil onde moramos todos os que votaram em Aécio e todos que votaram em Dilma, e todos que votaram nulo, e todos que preferiram ir pescar do que perder tempo com candidatos que eles acreditavam que não iam mudar coisa alguma no país.
No meu Brasil, que luto pra construir e continuarei lutando, cada um vai poder fazer as opções políticas que quiser, por seus motivos, por seus valores e ideias, e os outros, que não compartilham deles, poderão sagradamente discordar . Discordar não faz ninguém mais ou menos inteligente que o outro: só diferente.
No meu Brasil, seremos diferentes alegremente. Só concordaremos que é proibido não tolerar a discordância. A diversidade é isso: conviver com a certeza de que ninguém é como nós, e não a tentativa de igualar todos nós.
O mundo é feito de diferenças, não de igualdades. Ideais que impunham igualdades aos desiguais já produziram tragédias demais na humanidade. Se formos dividir o país em função de nossas diferenças, construiremos um país com 200 milhões de ilhas.

E certamente eu sentiria falta de alguém que me dissesse: “eu discordo de você”. E morreria no tédio, na solidão das verdades absolutas.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

A COPA DA CIDADANIA FOI PERDIDA



A COPA DA CIDADANIA FOI PERDIDA

"Amigos, estamos atolados na mais brutal euforia. Ontem, quando rompia a primeira estrela da tarde, o Brasil era proclamado bicampeão do mundo. Foi um título que o escrete arrancou de suas rútilas entranhas. E, a partir da vitória, sumiram os imbecis, e repito: — não há mais idiotas nesta terra. Súbito o brasileiro, do pé-rapado ao grã-fino, do presidente ao contínuo, o brasileiro, dizia eu, assume uma dimensão inesperada e gigantesca. O bêbado tombado na sarjeta, com a cara enfiada no ralo, também é rei. Somos 75 milhões de reis"
Nelson Rodrigues - 1962


Quando eu era garoto, o Brasil tornou-se tricampeão mundial de futebol, no México. Me lembro ainda muito claramente de alguns lances dos vários jogos do Brasil, naquela Copa do Mundo. Lembro do drible de corpo de Pelé no goleiro uruguaio: o mais belo gol não feito que já vi. Me lembro do passe de Tostão, quase caído, para Pelé no meio da área e deste para Jairzinho fazer o único gol contra a Inglaterra. E, claro, nesse mesmo jogo, lembro da incrível defesa do goleiro inglês para a cabeçada de Pelé. Finalmente, lembro-me da explosão que este país viveu quando Carlos Alberto enfiou aquele último gol contra a Itália, praticamente garantindo o título.
A partir dali a gritaria foi geral, fogos pra todo lado e milhares e milhares de pessoas nas ruas. Inclusive eu.
Peguei o “trolebus”- um dos últimos que ainda operavam em Belo Horizonte, e desci a rua do Ouro até a Aimorés, e daí para a Afonso Pena: era um mar de gente.
Depois, vivi as decepções de 74, de 78... Tive grandes esperanças com o belo futebol das seleções de 82 e 86. Em 1990, se vivi mais uma tristeza, vivi também a diversão de torcer para a Alemanha contra a Argentina.
Voltamos a ser campeões em 94, com o sabor adicional de uma disputa de pênaltis. Passamos pela traumática Copa de 98 e novamente vibramos em 2002.
Em 2002 eu morava em Brasília, e me lembro dos aviões da FAB escoltando o avião da seleção passando baixinho sobre a minha casa, que ficava na rota do aeroporto internacional de Brasília.
Em 2006 e 2010, voltamos a tropeçar em momentos decisivos, como já havia acontecido, por exemplo, em 82 e 86.
Entre uma e outra dessas duas últimas Copas do Mundo, tivemos a notícia de que sediaríamos, outra vez, um campeontao mundial.
Não éramos mais o país de 1950. Já não tínhamos mais complexo de viralatas, como gostava de dizer Nelson Rodrigues. Afinal, estávamos, desde 62, “atolados na mais brutal euforia”, como disse o próprio em uma histórica e emocionante crônica. Bicampeões mundiais não tinham mais nada a provar aos europeus, ou a quem quer que seja, dentro de um campo de futebol. Que dirá, então, de pentacampeões.
Entretanto, mesmo em 2007, quando o projeto da Copa do Mundo no Brasil se confirmava, com total apoio do governo Luís Inácio Lula da Silva, tínhamos muito a provar a nós mesmos.
O governo adotou o discurso ufanista, novamente vinculando o futebol à política, prática comum, como se viu, tanto à ditadura militar quanto aos governos “de esquerda”. Lula bravateava o “Brasil Grande”, o “Nunca Antes na História deste país”, e tudo mais. O momento econômico era favorável, muito mais graças aos preços internacionais das comoditties do que propriamente por ações significativas do governo. Mas, boa parte dos brasileiros embarcou nessa ideia.
E não seria uma ideia de todo má. Era uma grande oportunidade para nós. Grande oportunidade para mudarmos ou melhorarmos muita coisa neste país. Grande oportunidade para os negócios, para a população que poderia contar com os benefícios das obras de mobilidade urbana e outras, atingindo de maneira importante a qualidade de vida de milhões de brasileiros; grande oportunidade para nos acostumarmos com planejamento, com objetivos claros, com metas.
A FIFA, mal ou bem, nos trazia uma contribuição que poderia ser muito relevante: aprendermos de vez a realizar o que projetamos, de enxergar as iniciativas em parceria do estado e das empresas, não só como negócios, mas como gerando riqueza e bem-estar para a população, como aconteceu em diversas oportunidades na Europa.
Mas, não foi o que se viu. Aplicamos à organização e montagem da Copa do Mundo tudo que temos de pior: corrupção, descaso com recursos, descompromisso, burocracia, e tudo mais que conhecemos tão bem... há séculos.
Hoje, vivemos esse momento estranho, essa alegria com gosto amargo, essa vergonha que aparece nas redes sociais, de sermos o país que ama o futebol, o país que é brilhante e empolgante dentro de campo; mas que também é decepcionante fora dele. Sermos o país do futebol não faz de nós um país melhor para vivermos nele.
Que fique a lição: os campos de futebol são e serão sempre de todos nós, brasileiros, que amamos este jogo. Nós brasileiros que, como amantes e praticantes desse jogo, temos e teremos sempre o direito de nos “atolarmos na mais brutal euforia”. Nós brasileiros que nos deslumbraremos novamente com esta bela arte, desta vez tão perto de nós.
Torceremos, sofreremos em cada lance, nos deslumbraremos com alguns dos melhores jogadores do mundo, aqui, em nossos gramados, na vizinhança. E quem sabe ergueremos novamente essa taça tão nossa conhecida... Tão conhecida que estará sempre em casa, por aqui.
Mas, sabemos, agora de forma muito evidente, muito mais concreta – sem trocadilho! - que ainda temos um país melhor para construirmos, para nós mesmos. E isso não virá do talento futebolístico: virá da cidadania efetiva. Essa, é uma Copa que ainda não vencemos.

Murilo Cisalpino


Junho de 2014

terça-feira, 11 de março de 2014

O MAGO

O MAGO



O menino jogava futebol de botão. Concentrado, tocava habilmente o beque - o beque central, o “center-half”, como dizia o avô. Aquele beque era seu orgulho. Uma antiga e enorme lente de relógio de bolso. Amarelada pelo tempo, com pequenas rachaduras nas bordas, certamente já inútil como lente de relógio, mas de enervante eficiência para os adversários à frente da área do “Estrelão”.
Um passe perfeito colocou em jogo o meio-campista de matéria plástica, nascido de muito trabalho com pedaços de plástico, fogo, fôrma de empadinha e lixa d’água. Ajeitou... mais um toque para a direita... e avisou, solene: “pra gol”. Sacudiu os ombros, posicionando melhor as mangas da camisa do Cruzeiro e... “agarrrrrrrrrrra o golllleeeeiiiiiirrrrrooo”! Droga. O maçudo goleiro do adversário, uma caixa de fósforos recheada com pedaços de chumbo e revestida com durex, era uma verdadeira muralha.
Deixou a casa do amigo amargando uma derrota por 5 a 2. Pudera, o cara era campeão da rua, dono do “estádio”; jogava com um time de acrílico que tinha o escudo do Galo em cima... Troço de primeira, caro pra caramba... Tinha que ser atleticano o campeão da rua, porra!?
Foi até o bar. O bar, muito chique: balcão de pedra, granito cor-de-areia, banquinhos com acento em courino laranja; um baleiro de seis bocas, giratório, que rangia divinamente como um carrossel. Um carrossel musical de açucares rodando, rodando, à espera de uma decisão do freguês enebriado. Depois, a tampa de lata na mão do português, o dinheiro amarrotado no balcão e o equivalente em balas crescendo sob o olhar esgazeado e a voz contando: “cinco... dez... quinze... e uma de “pinga”.
Lugar de delícias aquele bar. Além dos doces, o menino era também freguês do “pão molhado” e da porção de farofa colocada pelo balconista num quadrado de papel de embrulho e degustada aos “tapas na boca” na escadinha vermelha do bar.
O menino passava o fim de semana com os avós. Ele, o avô, bancário, do Banco da Lavoura: camisa “Volta ao Mundo”, gravatinha preta com prendedor prateado. Criava pássaros. Criava, especialmente, um curió afamado no bairro. Um curió que valia ouro. E o avô limpava-lhe a gaiola, balanceava cientificamente a ração, proteinizando-lhe o canto. Atentava também para o estado emocional de sua jóia, dispensando ao pássaro algumas horas diárias de boa e amigável prosa. Eram como um ourives e sua pepita rara.
A avó fazia sonhos recheados com doce de leite, contava casos de Pirapora e de Nova Era; e lia Agripa Vasconcelos. À noite, sentava-se em frente à TV e ao lado da pequena caixa acústica, encantadora obra de engenharia eletrônica do marido, para acompanhar a crescente degradação moral da televisão brasileira. Ela não escutava bem, mas tinha olhos muito críticos.
Tarde da noite, o menino assistia sozinho ao seriado “Combate” e pensava que o dia seguinte era um domingo. Pensava que domingo era dia de feira e que o homem estaria lá. Pensava que o homem, amanhã, lhe faria uma faca, logo cedo, na feira, como prometera o avô.
Então, domingo. Um domingo azul como os desejos infantis. Ele e o avô. A sacola de feira colorida.
O menino tentava, debilmente, controlar a ansiedade brincando de contar carros a caminho da feira. Passaram pelo bar, subiram a rua, passaram pela sapataria. O avô conversava, da portinha minúscula, com um homem lá dentro. O menino sentia o cheiro de couro e graxa que vinha do outro lado do balcão de madeira amarelo. E via, na rua, outras pessoas, com outras sacolas coloridas, também a caminho da feira. A feira logo ali, a poucos metros. E a conversa interminável do avô com aquela voz antiga que vinha do cheiro.
Distraiu-se observando a “joaninha” da polícia civil que parou em frente ao bar. O “polícia” que estava ao volante desceu, entrou no bar, voltando pouco depois com um maço vermelho de “Capri” nas mãos.
- “Passo na volta, então, “Seu” Geraldo”.
Caminhavam outra vez. Cada vez mais gente. O burburinho aumentando, o ar agitado. A feira estendia-se por mais de três quarteirões, no alto da rua. Lá, do final, na esquina onde havia um armarinho, podia-se ver o viaduto, com seus arcos feito costelas expostas de um animal gigantesco.
Onde será que o avô iria primeiro? Onde? Caminhava e aguardava, o coração aos pulos. Uma alegria quente ganhava o menino na medida em que adivinhava nos passos do avô a barraca do homem, daquele homem.
Sorria como só os meninos quando pararam em frente à barraca. Lá estava ele: o mago. O homem que respirava desejos e exalava realidade.
O mago deixou de lado a madeira que encantava para cumprimentá-los. O avô perguntou pela gaiola que encomendara. O avô encomendara uma gaiola nova para sua jóia canora. Encomendara uma gaiola ao mago da madeira; encomendara, portanto, uma gaiola mágica.
O homem, o mago da feira, disse : “Aqui está, mas o senhor me dê alguns minutos para os últimos retoques”. “Claro”, respondeu o avô. E o mago iniciou a conversa tradicional, o ritual de passagem de suas criações, como sempre iniciava: “Imagine o senhor que”... E prosseguiu na mesma linha: “Agora, imagine o senhor se”...
O menino só via as mãos do mago e os pequenos pedaços de madeira sendo meticulosamente acertados, lixados, encaixados. Como era possível? - a alma do menino se perguntava. As lasquinhas e a serragem ganhavam o vento leve do domingo azul, como sementes da capacidade criadora humana; como pirlimpimpim da fada Sininho, no filme de Walt Disney.
A conversa seguia. A madeira parecia chamar pelo curió: “Pois o senhor imagine que”... Ziiiit, ziiiiit, ziiiit... E o olhar terradonunca do menino.
Terminada a gaiola, o avô e o mago voltaram-se para ele. Era chegada a vez do seu desejo. Uma faca, uma faquinha de madeira. Risos, um afago nos cabelos... “É pra já, meu rapaz”!
O mago escolheu, tateando com seus dedos gepetos, o toco de madeira adequado ao desejo proclamado na feira pelo menino. E começou a trabalhar, desta vez em silêncio. Ziiit, ziiit, zap, zap, ziiit: a madeira. Nascia a faquinha, a faquinha de madeira. Ele era menino; meninos não podem andar com facas. Mas, em breve, teria uma faca, de madeira, feita ali na feira, pelo mago, é claro.
Então, aquele homem, aquele mago azul do domingo, entregou-lhe a faquinha, sorrindo. Ele, menino, não disse nada, naturalmente: seus olhos encarregaram-se de transmitir a magia do momento.
Saíram, menino e avô, pela feira. Nas mãos, a faca, a faquinha. E já brincava. O avô comprava legumes, frutas e jiló tipo extra para o curió, enquanto o menino matava piratas, padres e professoras: só pra ficar no pê, que era uma letra que tinha uma língua inteira. Voavam membros, agonizavam vilões aos montes. O instrumento mágico deslizava pelos ares mortais nas mãos do herói em calças curtas.
Em casa, guardou, com cuidados de louça, sua faquinha. Bem junto ao beque de lente e ao meio-campista de matéria plástica.
Passou algum tempo, o menino, sem voltar à casa dos avós. Preparava-se financeiramente para realizar um novo desejo. E quando finalmente voltou, numa sexta-feira sombria, - vazia de cheiros, ventos estranhos, nuvens pesadas, crianças em casa - , recebeu a notícia: o homem, o mago da feira, “o senhor imagine”, havia morrido.
Morreu? O que é isso... morreu? Como assim, morreu? O homem da feira?... Ele morreu?

As crianças têm profundas decepções com o sobrenatural.


Murilo Cisalpino